Estávamos no princípio dos anos 70 e, por incrível que pareça não havia uma livraria em Cascais. Partindo desta premissa, um grupo de pessoas decidiu colmatar esta lacuna e «fazer» a dita livraria.
Idealizámos então que ela seria também um lugar de tertúlia (este ideal tornou-se notória e grata realidade), onde os cascalenses se pudessem encontrar para cavaquear e demorar-se numa área de café (projecto que acabou por não vingar) enquanto folheavam e adquiriam o que por cá se ia editando, mais o que viríamos a importar de França, Suíça (sobretudo livros de arte) e Inglaterra. Enfim, um lugar que promovesse, através do amor pela leitura dos seus visitantes, uma vivência desempoeirada da cultura.
O sonho fez-se carne no dia 22 de Dezembro de 1972, data do nascimento da Livraria Galileu em plena Avenida Valbom – à data uma artéria quase sem comércio, escassamente frequentada. Não faltou, devido a estas circunstâncias (e por causa também da então «astronómica» renda – 12 contos! – que pagávamos pelo espaço), quem nos augurasse um triste e curtíssimo destino. Entretanto já lá vão 34 anos…..
Foi no fim da década de 70 que realizámos, durante alguns verões, aquela que terá sido a 1ª feira do livro de Cascais, transbordando para a via pública boa parte do conteúdo da Galileu. E a «festa» (havia música!) prolongava-se, com a cumplicidade cálida dos nossos Julho e Agosto, até à meia-noite….
Foi também no fim dos anos 70 que ensaiámos os primeiros passos como alfarrabistas, opção esta que ganhou progressivamente projecção e consistência, acabando por alterar decisivamente o perfil inicial do nosso modelo – a Livraria Galileu terá sido, creio, uma das primeiras do país a celebrar o casamento (por sinal muito feliz) entre livros novos e livros usados. Ainda por esta altura, inaugurámos com o saudoso cartoonista Sem uma prática que se tornou regular: as sessões de autógrafos. Nelas têm participado, entre outros Marcello Duarte Mathias, José Saramago, José Eduardo Agualusa, Lídia Jorge, Clara Ferreira Alves e António Lobo Antunes.
Hoje confrontada com um mercado dominado por Golias sediados nas grandes superfícies, a Galileu continua a perseguir o sonho que lhe deu vida: uma livraria – generalista embora – orientada para aquele nicho de mercado que prefere a qualidade e a raridade à espuma passageira do best seller.